terça-feira, 23 de novembro de 2010

Trailer - Janelas Indiscretas

Como videocast, produzimos um pequeno trailer para o trabalho impresso, confira:

Se os olhos são as janelas da alma, qual a relação entre estas e as verdadeiras janelas físicas de nossas casas? O que elas mostram e o que escondem?

Esta é uma pequena mostra do que poderá ser encontrado no fotolivro do ensaio realizado por: Ana Beatriz Ferrari, Guilherme Teruya, Jane Brum, Jéssica Shiozawa, Kamila Moreira e Priscila Malta para a disciplina de Fotojornalismo da Universidade Anhembi Morumbi.

Conclusão

Para concluir o trabalho nós achamos importante registrar as dificuldades que tivemos para fotografar e as soluções que encontramos para estas.
Como já era esperado, tivemos alguns problemas com a iluminação, isso porque seria impossível utilizar qualquer iluminação artificial (havia sempre uma grande distância entre nós e as janelas e também deixaria as pessoas fotografadas mais incomodadas ainda), então tínhamos de usar apenas a luz ambiente. As dificuldades que isso causava eram que dependíamos muito do climas e do horário para fazer as fotografias e sofremos muito com o contraste que existia entre o interior e o exterior das residências. Para resolver isso nós escolhemos horários que fossem mais apropriados e dias com o clima melhor; as fotografias que ficaram com um contraste indesejável nós editamos posteriormente.
Também já sabíamos que teríamos que tomar muito cuidado com os ângulos ao fotografar. O nosso fotógrafo de referência, Julio Bitencourt, teve a vantagem de conhecer os moradores e portanto ter acesso aos seus apartamentos. Sendo assim, ele pôde tirar as fotos de uma janela para outra, no mesmo ângulo. Nossas fotos tiveram de ser tiradas na rua, então era necessário que inclinássemos a câmera para conseguir enquadrar as janelas, e estas acabavam sofrendo certa distorção. Existe uma ferramenta no photoshop para corrigir essas distorções, mas não gostamos do resultado. O jeito foi procurar tirar fotos de janelas que estivessem mais próximas da rua.
É importante destacar também que como Julio Bitencourt conhecia os moradores ele teve bem menos dificuldade para convencê-los a posar para a fotografia. Para nós isso foi impossível, quando nos aproximávamos das pessoas para pedir autorização elas muitas vezes fechavam as janelas ou saíam do campo de visão, e as poucas que conversavam conosco não concordavam em ser fotografadas, mesmo sabendo que era apenas para um trabalho de faculdade. Por causa disso muitas vezes optamos por tirar fotos de janelas que não mostravam ninguém, mas que tinham algo de peculiar e mostravam a personalidade de quem morava ali. Nas outras vezes nós aproveitamos essa retração que elas apresentavam ao ver a câmera e usamos para mostrar como as pessoas são fechadas e individualistas em uma cidade tão grande como São Paulo.
Essas foram as dificuldades mais relevantes e frequentes. Para algumas delas não encontramos solução satisfatória, outras o melhor era editarmos as imagens posteriormente, mas a maioria nós conseguimos superar e até tirar proveito e ficamos muito satisfeitos com o resultado.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Seleção

Clique aqui para ver minha seleção de 10 fotos que podem ser utilizadas no fotolivro.

Fotos



Aqui estão duas fotos que achei interessantes e que talvez possam ser usadas no fotolivro.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fim das saídas

No último domingo, dia 7, tivemos nossa última saída fotográfica para capturar as imagens que utilizaremos em nosso trabalho. As imagens foram feitas principalmente no Elevado Presidente Costa e Silva, o Minhocão.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Entrevista com julio Bittencourt

Contador de histórias

O jovem e premiado fotógrafo Julio Bittencourt fala sobre o trabalho na Janela do Edifício Prestes Maia 911. discurso prático ele desmistifica termos como fotografia contemporânea

(Foto: JULIO BITTENCOURT)

Contar a história. Para isso uma câmera na mão, objetiva na outra (Canon EOS 5D e uma objetiva 50 mm F/1.4) e aproximação do objeto. Criar intimidade com as pessoas e dirigi-las numa foto. Essa é a simplicidade com que Julio Bittencourt, 26, conta sobre seu trabalho Na Janela do Edifício Prestes Mais 911, que ganhou os maiores prêmios da fotografia mundial. O Leica Oskar Barnack (Alemanha), o Portfolio Pick Review / Aperture Foundation (EUA) e o segundo lugar do prêmio da Fundação Conrado Wessel (Brasil). Ainda expôs no Les Rencontres d'Arles de Photographie (França), nas galerias de arte da Leica em Frankfurt, Istambul, Praga, Melbourne, Nova York, Solms, Tóquio, Viena, no MASP - onde sua obra integra o acervo do museu, em Córdoba (Argentina), no I Fórum Latino-Americano de Fotografia e em galerias e fundações por diversos estados brasileiros.

A série de 12 imagens chamou atenção do júri do prêmio Oskar Barnack por "documentar a força da fotografia, que com poucas imagens pode contar uma história com várias nuances". Volta à infância para explicar o discurso desse trabalho e anuncia muitos outros. Autodidata, Julio fala sobre a paixão pela fotografia e o interesse em contar histórias interessantes através da imagem. Olhar inquieto, o fotógrafo tem discurso prático. Não fecha as portas para muitas possibilidades da fotografia. Dirige, manipula e coloca em movimento. Filho de jornalista e astróloga, passou a adolescência em Nova York, foi ser fotógrafo do grupo SOICO em Moçambique até voltar para São Paulo onde cresceu. Retratista, começou aos 19 anos como assistente no Jornal Valor Econômico onde mantém vínculos até hoje.

Reconhecido internacionalmente, Julio reconhece bons fotógrafos brasileiros, e diz que seu foco é o mercado externo. Onde "ninguém quer saber de quem sou amigo". E conclui dizendo que se necessário vai diminuir o dinheiro que ganha hoje, simplesmente para ter tempo de tocar projetos pessoais que não são poucos. "Essa é a paixão da minha vida, o que escolhi fazer então vou me soltar mais". Os rumos da fotografia? "A fotografia vai mudando assim como todas as outras coisas". (Paula Lima)


O POVO - Qual o tipo de fotografia você faz, como você classifica o seu trabalho?
Julio Bittencourt - Profissionalmente faz quase seis anos que sou fotógrafo. O que eu comecei fotografando e é uma coisa que faço bastante comercialmente hoje são retratos. Isso para coisas editoriais, corporativas e publicitárias. Eu posso dizer que sou um retratista, fora isso embora eu ame fazer e seja uma grande paixão, eu muito cedo também comecei a desenvolver projetos documentais sobre diferentes temas. Coisa que é muito difícil fazer no Brasil, principalmente alguém da minha idade. Então o que eu faço comercialmente são retratos e tenho vários projetos autorais meus que é fotografia documental. São histórias sobre coisas, se eu vejo uma história que me interessa, eu vou lá e conto, não porque alguém me disse que era legal, mas porque eu acho que eu tenho que contá-la. Não sei classificar o que eu faço, trabalho nesses meios diferentes da fotografia.

OP - Você não inclui o retrato numa classificação de fotografia documental? Seus retratos são contemporâneos?
Julio - O retrato cabe em qualquer lugar na verdade. Se você entrar no meu site vai ter o link retratos, aí você vai ver o retrato do Lula, Fernando Henrique, o dono do Bradesco. Ao mesmo tempo esse projeto que ganhou o prêmio lá fora, embora seja um trabalho documental ele não deixa de ser retrato. Então o retrato é uma linguagem de fotografia e não necessariamente é uma linguagem contemporânea, a fotografia vai mudando assim como outras coisas, o retrato existe desde que a fotografia existe, até antes mesmo, vem da pintura.

OP - O que você diria que é o novo da fotografia? Existe algo novo ou o que há é apenas uma continuidade?
Julio - Novo, tem diversas coisas novas o que mais muda são as linguagens. Uma coisa que se faz muito hoje é misturar fotografia com vídeo, alguns dos trabalhos que eu tenho são nessa linguagem e vou começar a fazer cada vez mais. No vídeo você conta uma história corrida e na fotografia não, é parado. No caso do projeto Na janela do edifício Prestes Maia 911 , são 12 imagens que contam uma história. Se eu colocar em vídeo, com sonorização, com gente falando, eu não sei nem classificar isso, mas isso é uma mudança de linguagem que possibilita incorporar diferentes mídias dentro. Então a fotografia pode ser usada no audiovisual, o audiovisual pode ser usado na fotografia onde vai ter música, por exemplo. Os tipos de fotografia não mudaram muito na verdade, o que mudou foram as formas de apresentação delas.

OP - Dessa maneira, você acredita que o que caracteriza a fotografia contemporânea não é uma mudança da imagem, mas sim de suporte?
Julio - De apresentação mesmo. Eu acho que ela segue uns padrões não de fotografia visualmente falando, mas de como apresenta-las. Você pega esses prêmios de fotografias internacionais que são mais novos, alguns já tinham isso, são compostos por formatos em que você tem que mandar 12 imagens e contar uma história sobre um tema x. Dentro desse tema você pode usar a imagem que quiser para contar a história da maneira que você acha que deve ser mostrada. Então eu acho que essas diferentes mídias incorporadas na fotografia agregam muito, deixam elas mais poderosas, embora não saiba classificar isso.

OP - Como surgiu a idéia de fotografar o edifício Prestes Maia?
Julio - Eu cresci aqui em São Paulo, num prédio gigantesco em Pinheiros. Eram 28 andares, oito blocos e mais de 400 janelas. Então eu sempre fui fascinado por janela, até mesmo sem perceber, até porque a comunicação do prédio era feita através de janela. Se ia alguém para chamar para jogar bola, ou até mesmo as mães para avisar alguma coisa, sempre gritava pela janela. "Vem comer, sai daí, pára de jogar bola", todas essas coisas. Aquilo de certa forma sempre me fascinou e ficou na minha cabeça, e quando eu estava trabalhando na Companhia de Fotos, uma produtora de fotografias aqui de São Paulo, descobri a história do prédio e desenvolvi com outras pessoas da produtora um projeto que não tem nada a ver com as janelas. Quando eu saí da Companhia, eu já tentava elaborar um projeto de janelas por São Paulo, por diferentes prédios, não no edifício em si. E foi quando eu vi o quanto ia ser difícil porque as pessoas geralmente não param nas janelas quando a gente quer. Como eu já conhecia as pessoas do Prestes Maia e elas faziam parte de um movimento, o cenário era muito gráfico e lá era possível tecnicamente fazer isso, por causa da distância entre os edifícios, decidi mostrar o que vi no interior dos prédios por essas janelas da melhor forma possível. É uma coisa que tenho comigo desde muito pequeno mesmo. E a história em si do prédio é muito interessante. Aquilo lá era um movimento social, que é um braço do MSTC, aquele prédio já foi até considerado o mais moderno da América Latina muitos anos atrás.

OP - Qual o discurso por trás das imagens?
Julio - Eu via muito aquele lugar habitado por aquelas pessoas como o sonho de uma cidade. Embora fosse um prédio invadido era um prédio abandonado, caindo aos pedaços literalmente. As pessoas revitalizaram aquele lugar, criaram um sistema de organização interna e transformaram aquilo lá no lar delas e, poxa, aquilo ficava no centro de São Paulo onde pouquíssimas pessoas podiam morar porque não é barato. A maioria das pessoas mora nas periferias e demoram horas para chegar e elas tinham tudo isso. Moravam num prédio que não era o ideal, mas que elas conservavam, conseguiram reabilita-lo de alguma maneira e transformaram aquilo num prédio. Era como se fosse o condomínio onde eu moro que também não é muito longe desse edifício. Sempre vi aquilo lá como o sonho de uma cidade.

OP - Como foi o processo de fotografar?
Julio - Começou nesse outro projeto, de uma amiga de um amigo que era jornalista e já tinha feito algumas histórias lá. Ela contou para gente a história do prédio, queria fazer uma matéria e chamou a gente para fotografar. Ao chegar lá, a gente viu que não era apenas uma matéria, que dava para fazer um projeto lá, então rolava essa tensão. Daí através dessas idas, a gente trabalhava sempre em grupo, conheci algumas pessoas. Depois que eu saí da CIA continuei indo lá e conheci mais gente, conversava muito, ouvia as histórias e até que meio sem querer fui conquistando a confiança deles e uma naturalidade entre a gente. Isso facilitou fotografar e ajudou a câmera a virar um detalhe, mas fui muito lá sem a câmera conquistar a confiança deles. O tempo que passei indo lá, acho que foi um ano e depois para fotografar uns dois, três meses, indo todo sábado e domingo porque era quando as pessoas estavam em casa. E a comunicação entre a gente era gritaria através da janela, para fotografar uma família tinha que entrar na casa de outra família, no outro prédio. Tinha dias que eu passava dez horas naquele lugar porque simplesmente as pessoas não estavam em casa.

OP - Dirigir a foto não é interferir na veracidade dos fatos? Porque você não se considera fotojornalista, mas suas fotos são documentais. Essa discussão faz sentido para você?
Julio - É uma coisa atrasada, muita gente fala isso mesmo, tem essa mentalidade atrasada. Eu acho um absurdo, nunca achei que alguém pensasse que essas pessoas apareceram na janela e eu fotografei, não existe isso. Quis dirigir porque eu conheci bastante essas pessoas que estão nas fotos. E as cenas que estão nas janelas é muito do que eu via dentro das casas. Eu simplesmente tentei trazê-las para a janela e dirigí-las. Esse trabalho são retratos daquelas pessoas. Eu acho essa discussão meio maluca, atrasada.

OP - Como foi a experiência de apresentar esse trabalho o Encontre de Arles, na França?
Julio - Incrível. Embora no Brasil não tenha muita divulgação, sou até muito descrente quanto a isso, lá fora saiu em todos os lugares possíveis, teve uma divulgação muito grande, eles dão muito valor para essas coisas. Tive um retorno muito grande, voltei com um monte de trabalho, saí em um monte de lugar. Sem falar na experiência em si que foi mágica, muito bacana mesmo.

OP - Que trabalhos são esses que você vai fazer a partir de agora?
Julio - Tenho contrato com o jornal paulista Valor, já fui editor de lá, mas faço diferentes coisas, para diferentes lugares. Um pouquinho de coisa corporativa, publicidade, umas coisas editoriais, inclusive o Valor, que é o contrato que paga as minhas contas mesmo e desenvolvo muitos projetos pessoais, na Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos. Aí são diferentes histórias, algumas vezes eles encomendam, outras eu desenvolvo as histórias e vendo para eles. Os trabalhos mudam, quando não é um ensaio, geralmente é um retrato. Vou fazer dois ensaios agora, um para a própria Leica sobre um surfista negro que mora no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Tenho que contar a história desse homem com 12 imagens. Outro é sobre as raves de São Paulo, que vai falar sobre tudo desse universo, encomendado por uma publicação da Inglaterra.

OP - Como você avalia a fotografia brasileira?
Julio - Eu acho que temos ótimos fotógrafos aqui no Brasil, muito talentosos mesmo. Mas agora que tive mais acesso às coisas lá fora, vejo que não só a fotografia, mas as coisas lá são muito mais profissionais. Estamos falando em fotografia, mas a sociedade brasileira funciona de outra forma e a gente aqui vive na base da indicação, é sempre o amigo do amigo que consegue espaço para publicar. Eu fujo muito disso, por isso que o meu foco é lá para fora, porque eles não querem saber de quem eu sou amigo, querem saber da qualidade do trabalho e como você o apresenta. O princípio de onde parte isso é profissional. Entre os fotógrafos brasileiros quem eu mais gosto, sem dúvida, é o Miguel Rio Branco. Entre os jovens acho que vários outros, tem o João Kel, com quem trabalho, além de Tiago Santana, Cláudio Edinger, Cristiano Mascaro. Mas a minha referência é o Miguel Rio Branco.

OP - Vendo o mercado da fotografia no Brasil com certo pessimismo, qual maneira de sobreviver fazendo fotografia no país?
Julio - Trabalhos existem, o mercado é bastante amplo. São Paulo, por exemplo, não deve nada para as maiores cidades do mundo. As maiores agências de publicidade do mundo também estão aqui. O dinheiro está na publicidade sem dúvida, há algum tempo está surgindo a cultura de fotografia corporativa, uma empresa que pauta 50 retratos dos 50 executivos de uma multinacional gigante, ou fazer um ensaio na fábrica da empresa, sabe? Isso também dá dinheiro. Os trabalhos editoriais são os que menos rentáveis, sem dúvida, e é o que você tem mais prazer em fazer. A publicidade é o carro-chefe do dinheiro. Trabalho autoral é muito difícil.

OP - O que o Encontro de Arles apresentou de mais inovador para a fotografia?
Julio - Tinha um trabalho de uns chineses em uns galpões, eram instalações com fotografias, e eles têm uma leitura bastante avançada e por mais que as coisas que eu tenha visto lá eu já tinha visto em outros lugares, o interessante é que esses caras nunca tiveram acesso a informação, por China ser um país comunista. Na verdade não eram cópias, eram releituras melhoradas de coisas que já existem, mas eles não sabiam. Gostei muito de umas projeções alternativas espalhadas pela cidade, achei bem despretensioso.

OP - Como você avalia a apropriação da fotografia pelas artes plásticas? Acredita que exista a valorização do suporte em detrimento da imagem?
Julio - Acho interessantíssimo. A arte passa muito por aí, não tem regra, nem lógica, temos que estar aberto a essas coisas. Acho que pode acontecer também de haver a valorização do suporte, mas não necessariamente. Você pode piorar as coisas juntando suas formas de expressão, mas pode melhorá-las também. E tornar diferente, original, não tem regra. Um dos trabalhos que eu vou fazer agora é em parceria com um artista plástico mexicano, chamado Felipe Ehrenberg, são só retratos de famílias brasileiras, é um trabalho sobre miscigenação, esse homem vai fazer as molduras das imagens. A interferência dele vai ser essa a moldura da imagem.

OP - O que você considera uma manipulação ética da imagem?
Julio - Depende, esse mundo digital é muito amplo. Tratamento de imagem, por exemplo, existe desde que a fotografia existe, o photoshop facilita muito isso. Eu acho que a manipulação na imagem jornalística é mais complicada. Como aconteceu recentemente de um fotógrafo de agência misturar duas fotos de guerra do Iraque, fez uma montagem e deixou uma falha gigantesca, tirou o braço de uma pessoa, o corpo de outra, foi uma montagem de algo que não era verídico. Esse tipo de imagem jornalística, informativa, é delicado, você não deve manipular, não acho correto. Sou a favor de tratamento de imagem, de pós-produção. Porque não é só manipular uma fotografia, isso também faz parte do processo criativo, você pensa nessas coisas antes de fazer a imagem, tem situação que não dá para resolver com aquela luz ou ambiente e você vai fazer isso depois.

OP - Hoje em dia a maioria das pessoas tem máquinas digitais e fazem seus próprios registros. O que você acha que isso representa para o futuro da fotografia?
Julio - Acho isso interessante no sentido de que pessoas comuns, não-profissionais da fotografia e de outras ramificações da imagem podem se tornar de alguma forma produtores culturais. Prova disso são trabalhos que já foram produzidos por grandes fotógrafos para grandes veículos com pequenas câmeras digitais e celulares, até produções cinematográficas feitas com câmeras de celular por pessoas desconhecidas pelo grande público. Hoje o mundo e as pessoas estão literalmente interligados através de um teclado e um monitor e essa produção e difusão são, ao meu modo de ver, incontroláveis. Não acredito que essa produção e difusão atrapalhem' os profissionais dessas áreas. Vejo como positivo porque podem ajudam com idéias e propostas.

OP - O que você começou fotografando?
Julio - Tinha 19 anos e entrei no Valor, foi quando ganhei uma Nikon S2 AS dos meus irmãos. Fui ser assistente no jornal, era um molecão que fazia tudo, organizava arquivo e o que mais tivesse que fazer. E não sei se dei sorte, trabalhei com muitas pessoas legais que me ajudaram muito e me incentivaram. No começo era muito perdido estava estudando desenho na Escola Pan Americana de Artes, mas sabia que não era aquilo que queria fazer, até gostava, mas não amava. Até chegar a câmera, e comecei a ir para rua e fazer bobagem mesmo. Um dia pintou uma foto para fazer não tinha ninguém e me mandaram. Deu certo, foi capa de um caderno e não parei mais. Falei que era isso que queria fazer da minha vida. Profissionalmente comecei mesmo entre 2000 e 2001, que foi quando me efetivaram como fotógrafo. Larguei o desenho porque não tinha tempo de ir para aula. Sou autodidata nesse sentido.